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Seletividade Alimentar: será mesmo?

  • Foto do escritor: Dra. Ana Paula Melo
    Dra. Ana Paula Melo
  • 3 de mai. de 2020
  • 3 min de leitura

Recebo muitos pacientes, cujos pais apresentam essas queixas:

-Meu filho não come nada.

-Meu filho só come tal alimento (em geral produto comestível).

-Meu filho não aceita provar alimentos novos.

E por aí vai... Normalmente os pais estão bastante preocupados, às vezes vem até a avó junto, pois a família não entende o que pode estar acontecendo.


Antes de qualquer atitude a primeira pergunta é: qual idade dessa criança?

Se a criança está da fase de Introdução Alimentar, muita calma! Vamos lembrar que a criança está APRENDENDO a comer, está CONHECENDO os sabores, as texturas, as cores. Não devemos estabelecer quantidades determinadas para que a criança coma e nem misturar todos os alimentos, como se fazia antigamente nas papinhas.


Nessa fase a criança precisa sentir o gosto de cada alimento separado, pode pegar com a mão, pode passar no cabelo e até jogar no chão. Não tem problema, pois o que chamamos de brincadeira, na verdade é um grande aprendizado. Quando privamos a criança dessas experiências, podemos abrir caminho para vários problemas futuramente.


Entre 6-12 meses, o Leite é o PRINCIPAL alimento, ou seja, independentemente da quantidade que a criança comer, ela estará nutrida. Entre 12-24 meses o Leite equivale a aproximadamente 50% das necessidades do bebê, então, mesmo naqueles dias que a criança rejeita os alimentos, ela não estará em risco nutricional.

Nessa idade não falamos muito em seletividade, pois a criança ainda está iniciando todo o processo, precisa provar diversas vezes e de formar diferentes cada alimento. Às vezes não come banana amassada, mas come inteira (ou vice e versa).

Quando a criança é maior, precisamos diferenciar 2 situações:

-ESTAR seletiva temporariamente = uma fase apenas, que passa depois de algum tempo, pode voltar, pode variar os alimentos, um dia adora banana, no outro não chega nem perto, e num outro ainda come duas de uma só vez. Mas é apenas uma fase, que eu e você passamos por isso sem que ninguém fique nos obrigando a comer o que não queremos. Devemos aprender a respeitar esse momento.

-SER de fato seletiva = aquela criança que come os mesmos alimentos diariamente e um número muito reduzido de opções. Isso requer um cuidado maior para resgatar a relação com os alimentos, que pode ter sido perdida ou nem aprendida. Sabemos que algumas doenças pré-dispõem a esses comportamentos seletivos. E isso merece uma avaliação criteriosa.


E por que é importante entender muito bem esses conceitos?

1º Para não entrar em desespero e se preocupar com coisas que não deveria.

2º Para não dar outros alimentos quando alguém considerar que a criança comeu pouco (principalmente quando não forem alimentos e sim produtos comestíveis).

3º Para não gerar comportamentos do tipo distrair a criança e enfiar a comida na boca dela (engolir é diferente de comer).

4º Para não forçar a criança a comer, mesmo que ela dê sinais claros que não quer, chegando muitas vezes ao choro.

5º Para não cair na tentação de prometer uma guloseima ou um brinquedo em troca da criança comer tudo o que alguém considerou adequado.

6º Para não sair correndo atrás da criança pela casa, com o prato na mão, para que a criança coma algumas colheradas.

7º Para não cair na tentação de substituir uma refeição por uma guloseima ou mamadeira, pensando que “pelo menos comeu alguma coisa”. Esse é um dos mais perigosos!

Esses comportamentos, além de serem desrespeitosos, não são efetivos. E muitas vezes só servem para desencadear comportamentos inadequados no futuro. Pois a criança não estará construindo um vínculo com os alimentos.

Lembrando que criança doente normalmente não quer comer. Nosso corpo tem uma inteligência enorme, pois se existe um micro-organismo a ser combatido, o corpo entende que não é hora de “gastar energia” digerindo alimentos, mas sim, direcionar todas as suas forças para eliminar aquele agente o mais rápido possível. E o retorno do apetite é um sinal clínico que a criança está melhorando.


Existem muitos tratamentos e estratégias que podemos lançar mão, mas a maior delas é o RESPEITO e a AUTONOMIA. Precisamos do acompanhamento pediátrico, endocrinológico, nutricional e muitas vezes psicológico. A ideia é justamente afastar patologias (e se presentes, tratá-las). Afastadas doenças, precisamos resgatar ou construir um vínculo entre a criança e a comida. Na verdade, são muitas possibilidades, dependendo de cada caso. Mas começar a não fazer aqueles 7 comportamentos acima citados, já é um bom caminho.

 
 
 

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